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 PARA AÍDA CARLA E TURMA 134 MEDICINA UFPE

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Hélia Cannizzaro




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MensagemAssunto: PARA AÍDA CARLA E TURMA 134 MEDICINA UFPE   PARA AÍDA CARLA E TURMA 134 MEDICINA UFPE Icon_minitimeSex Nov 15, 2013 11:19 pm

A OPOSIÇÃO INCLUSIVA FREUDIANA EM SITUAÇÃO INCLUSIVA MAUSSIANA
(A CIÊNCIA, COMO INTENÇÂO, INCLUSIVA OU EXCLUSIVA DO COLETIVO?)

A psicanálise (Spezialwissenschaft) coloca em oposição inclusiva o individual e o coletivo (No Tempo da Modernidade) e Marcel Mauss (Mauss, 1996) diz que “o poder da magia é que: a estagnação tem como regra dirigir-se à metamorfose coletiva”. Michel Foucault (2007) diz que a partir do século XIX muda inteiramente a teoria da representação “desaparece como fundamento geral de todas as ordens possíveis...a linguagem, por sua vez, como quadro espontâneo e quadriculado das coisas, como suplemento indispensável entre a representação e os seres, desvanece-se; uma historicidade profunda penetra no coração das coisas, isola-as”. E é possível interagir com as idéias desses autores, convencidos de que o não construcionismo dialético do individual com o coletivo gera esta oposição freudiana, mesmo que o homem vivesse em permanente rito mágico da situação inclusiva maussiana. É quase certo que o individual doentio gera um coletivo amplamente moribundo. E a perguntar: como avaliar esta oposição freudiana no corpo científico? Diz Freud que não há como historicizarmos o tempo em taxionomias, e assim relembro das ciências duras buscarem em ensaios de uma única peça respostas taxionômicas, e, no entanto, somos indivíduos/organismos entre o real, o simbólico, e o imaginário dentro de um hologramático planeta – que insiste em ex-siste, consiste e novamente insiste (Freud) – e como diz Mauss – uma situação imposta. Disse Mauss (1996), que “primeiro porque se sabe que não se sabe, e porque se tem a noção viva da quantidade de fatos”. E completa Freud, “um tempo de origem que escapa ao conhecimento discursivo”. Essa “razão normalizadora” e “limitado campo de representabilidade” é que nos impõe viver dentro de regras sociais neuróticas. Disse Lacan (1966), “que o homem da ciência não existe, mas somente o seu sujeito”. Este sujeito buscado pela psicanálise como “suporte da função simbólica” é a mesma subjetividade buscada pela antropologia dando voz aos diários de campo etnográfico nas necessárias pesquisas qualitativas. A hermenêutica, arte de interpretar, deve ser arte efetiva assentada no pensamento sistêmico que privilegia a “Inteligência da complexidade” de Edgar Morin (2006). A ciência é uma “analítica da finitude” por estudar o homem e não o que lhe falta, como afirma Lacan(1996) e por ser laboriosa a concessão de novos úteis paradigmas revolucionários entre a ciência normal e revolucionária de Thomas Kuhn (1970). Essa busca obsessiva da ciência do “consenso universal padronizado” banaliza a evolução irremediável da natureza, e não é à toa quando Nietzsche escreve a Gaia Ciência e Além do Bem e do Mal, numa reconstrução contemporânea de Irvin Yalow – Quando Nietzsche Chorou, e de forma ficcional Breuer foi “elegantemente” solidário. Esta “auto-reflexão interrogativa”, que anunciamos no título do ensaio, A CIÊNCIA COMO INTENÇÂO INCLUSIVA OU EXCLUSIVA?, busca reconhecer ou não (imaginário=consiste=consistência) a tão sonhada intersubjetividade neste campo como uma busca não conclusiva de conhecimento. Nesta dialogia do Eu fenomênico estrutural de Lévi-Strauss (1996) que reúne o individual ao coletivo é que afirma: “o cavalo produz efetivamente o cavalo num número suficiente de gerações... ao contrário um machado não gera jamais outro machado” e completa, “a integridade física não resiste à dissolução da personalidade social”. Edgar Morin (2006) desenvolve em seu livro, a Inteligência da Complexidade, a ação tendenciosa do jornalismo científico (antinomias da racionalidade) em privilegiar “castas pré-concebidas” num ato simbólico sem pretensões à neutralidade apoiadas em discursos argumentativos que geram sentenças prisionais de novos paradigmas. Felizmente, o valor da universalidade ainda habita no Imaginário (consiste) de Gaston Bachelard entre A Água e os Sonhos, O Ar e os Sonhos, e A Terra e os Devaneios da Vontade. Os ideologemas são na verdade ideologenéticas, em que Nietzsche afirma que os valores não são fatos ou fenômenos, e sim interpretações introduzidas pelo homem no mundo (No Tempo da Modernidade), e desta forma devo concordar com a antropologia estrutural de Lévi Strauss e correr o risco de concluir que os ideologemas são estruturais na medida em que são impostos e que correm o risco de antinomias genéticas propagadas pós-modernidade na espécie humana – afinal como afirma Shelley – “somos todos gregos”. A arte poética de Goethe sec. XVI, fez de Fausto o dominador do destino em suas mãos ou do homem Hans Castorp na Montanha Mágica de Thomas Mann que preferiu embrenhar-se na montanha de Berghof (em busca de um primo longínquo) submetido às intempéries do frio e da febre “encoberta pelo loucura”, mas que abominou o “coletivo” insuportável da planície na busca da inter-subjetividade da loucura, assim não tão objetiva (sens et non-sens) e classificatória. Kierkegaard e Baudelaire estão “fora de qualquer suspeita” do racionalismo crítico porque nos manuais científicos ainda não foi possível plotar o Amor em abscissas e ordenadas, entre desvios padrões e coeficientes de variação. A psicanálise abraça suas intenções (a intenção do amor) na medida em que respeita a percepção e fantasia, o fato e a ficção, o sonho e o despertar, o sentido e a ausência de sentido – “uma lógica de todas as lógicas (Lacan, 1966). Como buscar esta “coerência interna”: eis a questão. A sociedade informatizada (a ditadura robótica da eficiência), muito pouco poética, copia (Ctrl C) e cola (Ctrl V); pouco lê ou relê o colado; e deleta com facilidade – no que pese suas inúmeras utilidades. Este sujeito paranóico que caminha entre nós, e que é o espelho de nós mesmos, é incapaz de viver na incerteza da dúvida porque a robótica nunca pode conviver na freqüência de mistakes. Essa permanente negação da “intempestividade do imaginário” desconsiderando os sonhos, as utopias, as ideologias do desejo, como em Vital Brazil, deságua na infelicidade, e não é preciso biotecnologias para demonstrá-la no homem habitante da pós-modernidade. Como disse Max Weber, “a mágica foi retirada do mundo”. Me indago se a representação da matéria de Freud é uma representação estruturalista de Lévi-Strauss, mas qual vacância em Lévi-Strauss dos fenômenos ditos inconscientes? Certo estamos de que toda estrutura tem forma, cumpre uma função, mesmo que os domínios diagnósticos acuse de aleatório (ao acaso, randômico) tudo aquilo que não se sabe palpar, dominar, possuir, explicar. Talvez, o jargão “Freud explica” – explica que não se pode explicar a objetividade de forma posicional. Se Freud se afasta do ficcionalismo, mas abraça “a realidade que se trata enfrentar” – optamos por uma boa dose de mágico e de glamour ao real, com doses de liberdades fracionadas frente a insistente “racionalidade”, mesmo que elegantemente crítica, como no glamour da psicossexualidade. O Deus Pã metamorfoseou uma Ninfa e o mundo dos sons ficou totalmente incorpóreo, ou como em Mauss onde a fumaça com “mana” vira nuvem e se Moisés duvida Israel não duvidará. No texto O Objeto Metapsicológico (O Evento Freudiano) diz que “compreende-se que o sintoma nasce de algo inteiramente diverso de um mal-entendido: é por haver entendido demasiado bem que o sujeito, pela necessidade de uma lógica clivada, entra em conflito”.' Demorei, bom tempo, para entender este contexto de Freud, de que o inconsciente é um saber” (A interpretação dos Sonhos, A Psicopatologia da Vida Cotidiana e Os Chistes e sua Relação com o Inconsciente) – entendido aqui como um saber de si mesmo, não o saber sobre as bactérias. O homem da ciência reluta com ele mesmo, onde a ciência nega condensações e deslocamentos com diferentes significados – e estes mesmos (deslocamentos) são co-partícipe do inconsciente dos próprios “homens de ciência.” Os chistes, atos falhos, lapsos de linguagem e esquecimento de nomes parecem ser a eles negados nos manuais de monografias, mestrados e doutorados. Somos enfim dois homens: um inconsciente por inatismo genético (pedinte de voz e voto) e outro mecânico adquirido por condição social que só terá acesso ao “recalcado” (Freud) por intermédio do seu retorno. Assim como Saussure foi o fundador da lingüística moderna – que Freud não presenciou, nos faz recordar neste tema, de imediato, do saudoso Michel Foucault (2007) em seu livro As Palavras e as Coisas que fala de nossa prática milenar do “mesmo” e do “outro”, onde “os animais se dividem em: pertencentes ao imperador, embalsamados, domesticados, leitões, sereias, fabulosos, cães em liberdade, incluídos na presente classificação, que se agitam como loucos, inumeráveis, desenhados com um pincel muito fino de pêlo de camelo, que acabam de quebrar a bilha, que de longe parecem moscas...no deslumbramento dessa taxionomia” . E o autor se indaga: “Que coisa, pois, é impossível pensar?” Continuemos a escutar a voz de Foucault: “O que transgride toda imaginação, todo pensamento possível, é simplesmente a série alfabética (a, b, c, d)... o próprio espaço comum dos encontros se acha arruinado... a linguagem se entrecruza com o espaço... as utopias consolam... abrem cidades com vastas avenidas, jardins bem plantados, regiões fáceis, ainda que o acesso a elas seja quimérico... nada mais empírico (ao menos na aparência) que a instauração de uma ordem entre as coisas... a ordem é ao mesmo tempo aquilo que se oferece nas coisas como sua lei interior... em torno de diferenças crescem etecétera... É um reconforto e um profundo apaziguamento pensar que o homem não passa de uma invenção recente, uma figura que não tem dois séculos, uma simples dobra de nosso saber, e que desaparecerá desde que houver encontrado uma forma nova” (Foucault, 2007). Seria possível, então, etnografar (“encontro de sons”) a visão intra-subjetiva dos jovens recém-egressos nos programas de pós-graduação, buscando a construção de novos paradigmas, e conseqüentemente uma melhoria na inter-subjetividade de gerações futuras no campo científico? Como esperar que o rito mágico do sensível significante nunca se afaste do inteligível significado? Mesmo porque o significante tem caráter linear e por ser imagem acústica ouve mais do que fala – com eixos de simultaneidades e sucessividades que coexistem e se permitem conceder sua vez. Devo confessar que não me agrada muito a fração numerador/denominador (significante/significado) que se invertem em Saussure e Freud. Eu diria que o significante/significado deveriam ser somados (significante + significado) ou multiplicados (significante X significado), assim manteriam uma relação linear e jamais competitiva. A imagem acústica (o inconsciente como significante em ação) poderia acrescer mutuamente ao inteligível, assim como o sensível em relação ao conceito. Uma verdadeira “binariedade estrutural”. O problema é para o “outro” que saiba lê-lo. Ou saiba ver a metonímia de causa e efeito ou do semantema que insiste em só escutar a voz do significado. O corpo científico da pós-modernidade é intensamente semantemático. Por outro lado, devo reconhecer a importância do algoritmo original S/s de Lacan (O Inconsciente é um Saber) para desenvolver a incidência do significante e significado, pois é necessário manter uma relação matemática de fração no acompanhamento da relação. Portanto, as fórmulas matemáticas entre significante e significado podem ser mesmo ampliadas. Não se deveria buscar “um outro” - só sensível ou só inteligível. Essa não é a meta dos sábios, dos que deram mais certo, sem que os não sábios não tenham dado certo. Todo padrão, sem ser exame de fezes, me remete a Heráclito quando disse: “as idéias dos homens são jogos de criança”. Se “não há outro do outro” somos uma infinita solução plasmática homogeneizada relutante em nos negarmos. Um diverso de mim mesma que necessito, e que diariamente monto bancas e não desato os “nós borromeanos”. Diz Lacan, que RSI não podem ser isolados. Tudo começa no três RSI (real, simbólico, imaginário), como no rito religioso: pai, filho e espírito santo. Quanto mais existir “consiste (I)” e insiste (S) = a morte e a dor do R (real) serão mais amena. Diz o texto (O Inconsciente é um Saber), que “o simbólico é essencialmente bífido, bipartido e sua figuração mais lídima é a cabeça do deus Janus, possuidora de duas faces opostas, cada uma delas representando um lado de um par de opostos”. Isto, imediatamente, remete ao livro de Thomas Mann, Cabeças trocadas, que não há como nos imaginar diante de um espelho em que nossas cabeças fossem trocadas. Como se o fenótipo ex-siste (Freud), agora diferentemente: existisse, insistisse e consistisse. Talvez se justifique a perda de controle de Franz Kafka quando se viu metamorfoseado em um enorme inseto. Esqueçamos cabeças trocadas, e reflitamos sobre o envelhecimento. A mudança progressiva, com a idade, do fenótipo gera um “ser-entre” ou “ser não-todo”, e já plagiando o “Mal-estar da Civilização” de Freud – o envelhecimento e a conseqüente morte é certamente o “Mal-estar da existência fisio-psico-sociológica de Mauss” . Que aqui defendo o ficcionismo em busca de um pouco de glamour e um pouco de rito mágico que compense as difíceis dores físicas, psicológicas, as feias rugas, as dores articulares, a finitude – um estruturalismo imposto sem acesso a júri popular. A estrutura é o princípio do “real”. Faz o “real” e mora no “real”. O simbólico é antagônico quando olha para o real ou olha para o imaginário. O rito mágico faz o simbólico olhar para o imaginário e nesta bifurcação deixa, por um tempo, o real (R  S  I). O cartesianismo jamais obterá a “universalidade da consciência”. O Logos universal, que é supra-individual, jamais será alcançado. Se as “variantes” fossem “fixas” talvez chegaríamos longinquamente próximos. Mas, o mundo que deito, deixa de ser o mundo que acordo agora. Afinal, nossa intenção é sermos intemporais e dominarmos o mundo? A angústia, quer aceitemos ou não, é da negação do “eu” transcendental, intemporal e permanente. E em pensar, que o empirismo já começa pelo “não saber” e provar “que é saber”. No mínimo, há que render respeito à espécie humana incansavelmente “no sobreviver”. Estamos convencidos que a diferença não é desigualdade, que o imaginário não é ilusão, que nem toda “defesa psicanalítica” se converte em doença, que todos somos carentes da elaboração da ab-reação do afeto, e que a revolução não é guerra. A psicanálise não está em nenhum lugar pré-existente, justo está em todos os lugares – é o todo unitário, identificado com a consciência e sob o domínio da razão – a lógica do inconsciente e o desejo que a anima. A noção primeira da verdade científica deve estar assentada no bem social. Seu maior desafio de acordo com Portocarrero (2002) “agora não é dominar, mas salvaguardar o mundo”. De acordo com François Delaporte (2002), citando Canguilhem, “a história não é um pleonasmo da ciência, nem filha da memória, mas filha do juízo, Isto é, história normativa”. Se Canguilhem apresenta A Teoria Celular (1966) como uma contribuição à psicanálise, poderemos deduzir que as reações “Reais” seriam as proliferações, diferenciações, apoptoses e mortes celulares; o “Simbólico” na “insistência” das sobrevivências; e o “Imaginário” celular (consistência) envolto de metafísicas – estas ultimas não admitidas por Freud. O próprio Canguilhem alimenta a trama do imaginário e do conceitual. Delaporte (2002), citando Canguilhem, diz que “o avanço de uma ciência não resulta do acúmulo de conhecimento”. Portocarrero (2002), citando Foucault, diz que “o objetivo da produção de saberes não é dizer o que pode haver de verdadeiro no conhecimento, mas saber até onde e como é possível pensar de outro modo”. O interesse de Foucault não diz respeito à ciência propriamente, mas ao saber. Com a palavra Foulcault: “Não se deve temer as mesquinharias, pois foi de mesquinharia em mesquinharia, de pequena em pequena coisa, que finalmente as grandes coisas se formaram”. Este trecho, abalizado por Foucault, confere esperança ao status quo dos cientistas e dos que iniciam dentro deste contexto. No que pese o autor reconhecer a existência de uma “intolerância coletiva” e, que, há uma petição da verdade imposta pela ciência: o poder, e que este “poder” não poderá ser confundido com o Estado. Thomas Kuhn (1970), em seu livro The Structure of Scientific Revolutions, dá um tom agradável ao discurso quando declara sempre existir a possibilidade de novos paradigmas através de ações “revolucionárias” em relação ao consenso do “normal” na reprodução da racionalidade científica (Ciência normal  Crise  Pesquisa extraordinária  Revolução  Nova ciência normal  Nova crise...). Feyerabend (1977), não renuncia o papel da arte quando diz que “é possível conservar o que mereceria o nome de liberdade de criação artística e usá-la amplamente, não apenas como trilha de fuga, mas como elemento necessário para descobrir e, talvez, alterar os traços do mundo que nos rodeia”. E completa, Feyerabend (1993), “sustento que todas as regras têm os seus limites e que não existe uma racionalidade “englobante”. Gosto quando releio Merton (1970), quando diz que “o cientista chegou a considerar-se independente da sociedade e a encarar a ciência como empresa que se justifica por si mesma... Era necessário que se desse um ataque frontal contra a autonomia da ciência, para se transformar esse isolacionismo otimista em participação realista no conflito das culturas”. Freud (Obras Completas - Volume XXI, ed. 1969), ao escrever O Mal-estar na Civilização, inicia o texto dizendo que as pessoas buscam poder, sucesso e riqueza para elas mesmas... uma admiração de seus contemporâneos. Só me distancio de Freud por me ser apraz, os devaneios da vontade - “sentimentos oceânicos”. Mesmo sendo uma “restauração do narcisismo ilimitado” como ele diz – mas socorrente, como aceito. Diz Freud, “não consigo descobrir em mim esse sentimento oceânico”. Diante do “real”, em toneladas e bateladas, é preciso existir este conteúdo ideacional associado ao sentimento – inclusive como estímulo ao fazer diário laborativo. Considero que a “fachada” do ego, que é o id, não suporta a maquiagem permanente da teatralidade. A metáfora do suor atrapalha a maquiagem quando nos olhamos ao espelho, e do “outro” que permanentemente nos olha. “As linhas fronteiriças entre o ego e o mundo externo se tornam incertas”. É consolo para o sistema memórico límbico, e mais desconsolo em nossas patologias, quando Freud afirma que “na vida mental, nada do que uma vez se formou pode perecer”. Em nada parecido com o que restou da História da Cidade Eterna (Roma) - o passado da cidade e o passado da mente, sem esquecer das patologias que desviam este contexto. Outro mal-estar da civilização em Freud: as religiões: “tudo é tão patentemente infantil”. Outro ponto abordado por Freud é sobre a felicidade: “a intenção de que o homem seja feliz não se acha incluída no plano da criação”. Mais uma justificativa para a concessão e aceite do rito mágico, do rito religioso, da arte, e do imaginário. Sem esquecer do “deslocamento de libido” como produção de prazer a partir das fontes do trabalho psíquico e intelectual – como sói acontecer no mundo científico: “as satisfações parecem mais refinadas e mais altas... o método não proporciona uma proteção completa contra o sofrimento”. O amor: “o centro de tudo, que busca toda satisfação em amar e ser amado”. Quando Freud afirma que “a felicidade na vida é predominantemente buscada na fruição da beleza” não há como deixar de mencionar o escritor Francês contemporâneo Michel Maffesoli. Essas “pessoas de máscaras variáveis” de Maffesoli se transformam verdadeiramente em ética. Reflitamos: a estética da pós-modernidade tem sido capaz de construir uma ética de macromoléculas saudáveis? E qual o papel do corpo científico na oposição inclusiva ou exclusiva dessa mesma Ética? Freud aconselha não buscarmos a totalidade de nossa satisfação numa só aspiração. Que o nosso sofrimento provém do poder superior da natureza, da fragilidade de nossos próprios corpos e da inadequação das regras que ajustam nossos relacionamentos. A intenção ultima de muitos homens da ciência é pertinente na classificação freudiana: Deus de prótese... “e não se sente feliz em seu papel semelhante a Deus”. Outro problema é a ordem obsessiva, “que é uma espécie de compulsão a ser repetida” – sem que o homem seja capaz de dar ordem ao aleatório e assim abruptamente classifica-o como randômico, ao acaso. Estou certa ser um dos maiores males da civilização, incluído por Freud: “não hesitará em me prejudicar... não se importará em escarnecer de mim, em me insultar, me caluniar e me mostrar a superioridade de seu poder”. Ficamos por convicção com uma das canções do Harpista no Wilhelm Meister de Goethe, extraído de Freud (1969) que diz CANTANDO assim:
“À Terra, a esta Terra cansada, nos trouxestes,
À culpa nos deixastes descuidados ir,
Depois deixastes que o arrependimento feroz nos torturasse,
A culpa de um momento, uma era de aflição”.
“Essa batata de gigantes que nossas babás tentam apaziguar com sua cantiga de ninar sobre o Céu” (Freud).

HÉLIA CANNIZZARO
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