Medicina Psicossomática

Introdução à Medicina Psicossomática
Medicina Psicossomática é aquela que procura estabelecer nexos entre as emoções, a alteração da fisiologia dos órgãos levando à produção de sintomas e sua relação com a etiopatogenia de determinadas doenças, como a úlcera péptica e a retocolite ulcerativa, expressas em lesões orgânicas bem definidas. Cannon (1915 - 1937) com o seu princípio de "luta ou fuga", demonstrou que o organismo responde a situações de emergência com alterações adaptativas de sua fisiologia, que permitem ao indivíduo resistir ou escapar. Nesse impulso de autopreservação, o metabolismo dos glicídios se ativa, mobilizando açúcar para energia; a policitemia é induzida, favorecendo o exercício muscular prolongado; o sangue é impulsionado para o coração, pulmões, SNC e membros; o sistema imunológico afina com o prazer; o ritmo cardíaco acelera, os bronquíolos dilatam-se para melhorar a ventilação pulmonar, etc. Num indivíduo normal essas alterações fisiológicas são temporárias, permanecendo enquanto persiste a necessidade de esforço, voltando em equilíbrio ao normal quando o estímulo é suprimido. As reações desajustadas, frente a "luta ou fuga" levam às reações de somatização. Os distúrbios emocionais não podem, jamais, serem postos de lado pelo Médico. De acordo com o próprio Cannon: "As duas condições, a estrutura alterada do sistema nervoso e a estrutura alterada do órgão, devem ser tratadas como um mesmo distúrbio".
De acordo com Selye (1950-1956), o organismo na sua defesa contra o "stress" participa de atos complexos, integrados e ocorrendo em ordem cronológica definida, a saber:
1. Reação de Alarma
Ocorre quando o organismo é exposto a estímulos nocivos para os quais não está adaptado. Os sinais de alarma atingem os centros coordenadores do sistema nervoso. Essa reação desenvolve-se em duas fases:
A. fase de choque: Reação inicial e imediata ao estímulo nocivo, caracterizada por vários sinais: taquicardia, perda do tono muscular, queda da temperatura e da PA;
B. fase de contrachoque: Mobilização das forças defensivas, que inicia-se na hipófise. O ACTH é excretado em grande quantidade. Os glicocorticoides inibem as reações de defesa excessiva. O processo de adaptação, então, inicia, com atrofia do timo, do tecido linfoide como um todo, e de linfopenia. Há distúrbios do metabolismo hidrossalino, dos carboidratos e proteínas.
2. Estágio de Resistência (Adaptação)
Os sintomas melhoram ou desaparecem.
3. Estágio de Exaustão
Como a adaptabilidade é finita, a exaustão é inexorável, principalmente se o fator estressante for muito intenso e persistir por período muito longo (=DOENÇA)''.
Alexander (1932 - 1964), definiu oito fatores que poderiam ter importância etiológica (=origem) na doença (=patologia):
1. Constituição hereditária; traumatismos obstétricos; doenças orgânicas da primeira infância; experiências físicas traumáticas, da primeira e segunda infâncias;
2. Fatores adicionais - Cuidados dispensados ao RN (recém-nascido): desmame, métodos de adormecê-lo; clima emocional da família.
A partir, daqui, gera-se três grupos etiológicos essenciais:
1. Padrões de conflito emocional
Os padrões de personalidade que se consideram etiologicamente significativos nas doenças orgânicas crônicas abrangem uma gama dos conflitos humanos: vergonha por sentir-se desamparado, repressão de sentimentos hostis, "não sou amado", medo, rejeição, etc.;
2. Vulnerabilidade orgânica
Tanto pode ser constitucional, transmitida pelos genes, como adquirida pelos processos educativos da infância ou por doenças anteriores.;
3. Situação desencadeante - "Vivência precipitadora"
A mesma situação poderia ser sentida por uma pessoa como um alívio e por outra como uma catástrofe, ou seja:
A. Estímulo psíquico cortical crônico (tendência reprimida);
B. Excitação dos centros subcorticais através do estímulo psíquico;
C. Condução da excitação dos centros subcorticais aos vários órgãos, através do sistema nervoso vegetativo, produzindo alterações das funções vegetativas, exemplo, histeria no DNV;
D. Alterações teciduais morfológicas sob a influência do distúrbio funcional crônico.
Concluindo, ou se prepara para "lutar ou fugir" em situações de emergência ou se retrai (com muito sofrimento) nas ações dirigidas para o exterior. No "lutar e fugir", há uma atitude emocional que é acompanhada de excitação simpática, traduzida em uma mobilização de emergência com inibição da atividade gastrintestinal; estímulo das funções cardíaca e pulmonar; redistribuição do sangue da área visceral para os músculos, pulmões e cérebro, mobilização dos depósitos glicídicos; estimulação do córtex e medula adrenal e elevação da PA. Na "RETRAÇÃO" há a excitação parassimpática, ou seja, estímulo da atividade digestiva gastrintestinal; armazenamento de açúcar no fígado e espasmo dos brônquios e bronquíolos.
Na Anamnese, especificamente nos Antecedentes Pessoais, Familiares e Sociais, a Síndrome Psicofuncional (American Psychiatric Association) deve ter, por parte de um Médico, um interesse primíparo, e, por isso, primordial?

Certamente, pois a diferenciação dos fatores etiológicos é crucial, devido às diferenças em relação ao tratamento das pertubações "normais" e as psicogênicas, que requeririam acompanhamento psicológico, e ,dependendo do caso, acompanhamento farmacológico diferenciado (antidepressivos, antipsicóticos, ansiolíticos, etc.).

Com certeza, porque diversos fatores emocionais influenciam diretamente nos processos do  nosso organismo, através das vias nervosas humorais. Acredito que  o médico deve sim fazer essa abordagem que englobe, em sua totalidade, processos integrados de transações entre diversos sistemas, como os: somáticos, psíquicos, sociais e culturaais do paciente, pois estes têm fatores bastante relevantes em determinadas patologias. E nosso corpo “responde” à essa nossa interação social e à forma de vida que levamos e isso é refletido em nosso organismo.Havendo até uma expressão introduzida por Freud, que é a da complacência somática,  escolha da neurose histérica e a escolha do órgão ou do aparelho corporal sobre o qual se dá  a conversão. Com isso, percebemos que durante a anamnese o médico deve ter uma certa “preocupação” em detalhar esses fatores, pois teoria psicossomática permanece estreitamente ligada à psicopatologia.

Acredito que a necessidade por uma medicina psicossomática surgiu a partir do momento o qual muitos profissionais da área de saúde - em especial o médico - se viram diante de pacientes com sinais e sintomas verdadeiros, mas sobre os quais não conseguiam diagnosticar com exatidão. Não é raro pacientes irem à emergência com sintomas de infarto, mas ao exame médico nada de errado é encontrado. Quantas dermatites também não ocorrem idiopaticamente?
A verdade é que durante muito tempo se olhou para a doença, esquecendo-se do ser humano (ser holístico; estruturalmente orgânico, mas de "construção" social e, portanto, sujeito psicológico).

A medicina psicossomática, tal qual uma forma de conhecimento integrativo, parece-me altamente interessante e complexa. Percebo que ela está bastante associada à psicanálise - até por razões históricas -, o que me deixou a pensar se existiria uma fronteira bem delimitada entre as duas ciências.

Os sintomas psicossomáticos dependem de três fatores, os quais estão diretamente ligados ao grande desafio de conceber, classificar e tratar essas patologias, já que esses sintomas podem variar dependendo do estilo de vida e idiossincrasias pessoais . Tal ideia acaba sendo a melhor explicação de patologias nas quais não consegue-se definir e provar cientificamente outra causa. Esses fatores são: 1 - Qualidade de vida, incluindo hábitos alimentares, atividades físicas, sedentarismo... 2 - Herança genética, que pode deixar os indivíduos mais predispostos para desenvolverem alguns tipos de doenças; e 3, fatores psico afetivos de acordo com a habilidade de lidar com as emoções, os traumas e os sentimentos de abandono, rejeição, inclusão, culpa.

Sim, dada a importância do olhar médico ao ser humano como um todo, visando o tratamento do doente, não da doença - olhar primordial, que, infelizmente, tende a ser sacrificado pela industrialização da medicina pós-moderna. Além disso, deve-se considerar também a importancia dos demais profissionais da saúde e das práticas integrativas que, assim como o médico, são capazes de auxiliar o paciente na promoção da sua saude.

Exatamente Vinícius. É lamentável quando não se vê o doente como um Ser, como nós mesmos.

vinicius escreveu:

Certamente, pois a diferenciação dos fatores etiológicos é crucial, devido às diferenças em relação ao tratamento das pertubações "normais" e as psicogênicas, que requeririam acompanhamento psicológico, e ,dependendo do caso, acompanhamento farmacológico diferenciado (antidepressivos, antipsicóticos, ansiolíticos, etc.).

Maxwell Moura
Até se justifica, este pouco zelo nos corredores do SUS. Pouco tempo, pouco mando.
Mas, esteja certíssimo, eu com 55 anos de idade, meus colegas que deram mais certo
na Medicina são os mais ardorosamente “humanos”. Não perdem a ternura jamais, mais que eficientes e mais que dóceis, mais que competentes e mais que solidários. Sempre mais.
Gera-se um rapport tão enorme que o amor dos pacientes transparece, ao Doutor,
nos seus próprios olhos. Eles voltam sempre e, sempre chamam outros para lá.
O Doutor tem algo de Sagrado, quando Sagrado se faz.

maxwellmoura escreveu:

Com certeza, porque diversos fatores emocionais influenciam diretamente nos processos do  nosso organismo, através das vias nervosas humorais. Acredito que  o médico deve sim fazer essa abordagem que englobe, em sua totalidade, processos integrados de transações entre diversos sistemas, como os: somáticos, psíquicos, sociais e culturaais do paciente, pois estes têm fatores bastante relevantes em determinadas patologias. E nosso corpo “responde” à essa nossa interação social e à forma de vida que levamos e isso é refletido em nosso organismo.Havendo até uma expressão introduzida por Freud, que é a da complacência somática,  escolha da neurose histérica e a escolha do órgão ou do aparelho corporal sobre o qual se dá  a conversão. Com isso, percebemos que durante a anamnese o médico deve ter uma certa “preocupação” em detalhar esses fatores, pois teoria psicossomática permanece estreitamente ligada à psicopatologia.

Sara Sadok
Todas as ciências de saúde estão interligadas.
O Médico tem a chance, nobre, de direcionar um melhor especialista se não se sentir
cômodo e capaz de acompanhar.
Mas, certo está, a “palavra” para a Psicanálise é um trunfo. Permita, então, que o doente fale,
seja solidário com sua dor porque ele sofre e, depois, seja o mais eficiente que puder.

sarasadok escreveu:

A medicina psicossomática, tal qual uma forma de conhecimento integrativo, parece-me altamente interessante e complexa. Percebo que ela está bastante associada à psicanálise - até por razões históricas -, o que me deixou a pensar se existiria uma fronteira bem delimitada entre as duas ciências.

Além Luanna Rocha, perdas de familiares, desemprego, psicoses nas famílias, usuários de drogas, orçamento insuficiente para bastar a família, mudança de cidade, fome, miséria, incompatibilidade familiar, incapacidade de gestação, impotência, infertilidade, RN morto,
complexo de inferioridade, deficiências e propensões, etc...

Luanna Rocha escreveu:

Os sintomas psicossomáticos dependem de três fatores, os quais estão diretamente ligados ao grande desafio de conceber, classificar e tratar essas patologias, já que esses sintomas podem variar dependendo do estilo de vida e idiossincrasias pessoais . Tal ideia acaba sendo a melhor explicação de patologias nas quais não consegue-se definir e provar cientificamente outra causa. Esses fatores são: 1 - Qualidade de vida, incluindo hábitos alimentares, atividades físicas, sedentarismo... 2 - Herança genética, que pode deixar os indivíduos mais predispostos para desenvolverem alguns tipos de doenças; e 3, fatores psico afetivos de acordo com a habilidade de lidar com as emoções, os traumas e os sentimentos de abandono, rejeição, inclusão, culpa.