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 A base da Imunologia

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3 participantes
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Hélia Cannizzaro




Mensagens : 1065
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MensagemAssunto: A base da Imunologia   A base da Imunologia Icon_minitimeDom Abr 06, 2014 8:46 pm

Turma 135
Muitos demonstraram interesse neste tema. Resolvi escrever.
A resposta imune normal inicia com os APCs (células apresentadoras de antígenos). Antígenos = imunógenos = agentes nocivos que podem ser bactérias, vírus, protozoários, helmintos, fungos, etc). Bactérias que podem ser Gram positivas como Staphylococos aureus, Streptococos pneumoniae, etc. ou bactérias Gram negativas como Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, etc. Vírus como o Influenzae, da mononucleose infecciosa (Epstein Barr), HIV-1, etc. Protozoários como Entamoeba hystolitica (ameba), Giardia lamblia, etc. Helmintos como Ascaris lumbricoides, Schistosoma mansoni, etc. Fungos como Candida albicans, Tricomonas vaginalis, etc. Enfim, os antígenos, em condições normais, são microorganismos sempre estranhos à nossa estrutura biológica e que provocam diferentes patologias. Os APCs os reconhecem através da expressão de MHC (complexo de histocompatibilidade principal) na membrana dos leucócitos. Todas as células do corpo expressam MHC tipo I, só o sistema linfoide (Amígdalas = tonsilas; Placa de Peyer = na submucosa do intestino delgado, principalmente apêndice); baço e gânglios linfáticos = linfonodos) expressa MHC tipo II, muito mais policialesco e refinado. Após processarem os antígenos, os apresenta para os linfócitos T produzidos pelo timo [numa ligação entre MHC e TCR (receptor de célula T)], e estes últimos estimulam a produção de anticorpos, num processo extremamente complexo. Os anticorpos possuem CDRs (região determinante de complementariedade), na porção N terminal, que se liga especificamente a cada tipo de antígeno processado. Após ligação, a porção Fc (C terminal) se liga ao complemento (produzidos pelo fígado) com destruição deste complexo Ag-Ac (antígeno – anticorpo). Desta feita, nas doenças auto-imunes, os antígenos passam a ser algumas moléculas do próprio paciente, como anti-DNA (anticorpos contra o próprio DNA), como ocorre no LES (lúpus eritematoso sistêmico). Mas como ocorre esse processo imunológico? A Medicina atual já domina o mecanismo completo e a terapêutica? O sistema imune tem uma grande diversidade e um repertório vasto de especificidade expresso na população de célula T e célula B. Em condições normais, o corpo deve estabelecer um mecanismo self – recognition (auto-tolerância), caso contrário se estabelece uma auto-imunidade. Um das primeiras descobertas de produção de auto-anticorpos foi associado com a tireoidite de Hashimoto. Essa doença é bastante comum nas mulheres de meia-idade e frequentemente leva a formação de hipotireoidismo por anticorpos contra a tireoglobulina. Lembrando, que a tireoglobulina habita o colóide, que fica entre as células do folículo tireoidiano, e na presença do iodo a esterifica três vezes gerando o T3 ou quatro vezes gerando o T4, que são hormônios fundamentais no controle do metabolismo basal (=a base da homeostasia). Não confundir com hemostasia, que é cessar um sangramento. Esses Acs contra a tireóide são demonstrados no laboratório por técnica de aglutinação ( o soro do paciente, e no tubo tireoglobulina) e por reação de precipitina (imunodifusão radial, onde a tireoglobulina fica mergulhada em gel). Muitos Acs também podem se dirigir contra o citoplasma das células foliculares da tireóide. Por outro lado, existe doença auto-imune, como o lúpus cuja reação se faz com vários tecidos do corpo, daí a gravidade desta patologia. No caso do lúpus, os Acs são produzidos contra o núcleo celular de vários tecidos. Os Acs contra tireóide ocorrem também em alta frequência na anemia perniciosa (Acs contra o fator intrínseco gástrico fundamental na absorção de vitamina B12). Similarmente, autoimunidade tireoidiana tem alta incidência de auto-Acs contra o estômago. A deposição de complexo imune (Ag-Ac) leva a uma inflamação através de uma variedade de mecanismos, incluindo ativação de complemento e recrutamento de fagócitos. O que se observa, não obrigatoriamente, é que há uma elevada incidência familiar de autoimunidade, portanto o fator genético é muito maior que o ambiental. Cada patologia autoimune tem uma tendência a estar associada com um HLA particular (antígeno leucocitário histocompatível). Por exemplo, os meus rins, em condições normais, são histocompatível comigo. O haplotipo B8, DR3 é frequente na doença de Hashimoto. Muito, provavelmente, no futuro com terapêutica competente específica, a descoberta em tenra idade deste haplotipo irá prevenir o desenvolvimento desta patologia. DR3/4 tem um grande risco de desenvolver Diabetes Tipo I. Hoje, já é bem sabido na ciência Imunologia, que auto-Acs pode desenvolver IAM (infarto do miocárdio agudo). O processo de autoimunidade produz a lesão, e não a lesão leva à produção de auto-Acs. Autoimunidade pode ser induzida em animais experimentais por injeção de auto-Ags (self antigen) desde que seja introduzido também um adjuvante de Freund´s. Mas, o que seria este adjuvante? São componentes bacterianos. O melhor adjuvante usado no laboratório é o Mycobacterium tuberculosis em suspensão que é então emulsificado com solução de auto-Ag aquoso. Seria então necessário a presença de adjuvante para gerar autoimunidade? Porque nem todos os pacientes com tuberculose desenvolvem autoimunidade? A ciência atual sabe profundamente deste tema? Sobre os adjuvantes, tem-se visto com frequência pacientes que tomaram a vacina contra gripe (Ag atenuado), ou desenvolverem a própria doença ou uma autoimunidade, como a mielite transversa (com auto-Acs contra a medula espinhal) muitas vezes com paralisias irreversíveis. A Medicina atual, conhece profundamente este mecanismo?. Outros tantos auto-Acs contra receptores de acetilcolina levando Myastenia gravis (astenia grave); Acs contra espermatozoides; Acs contra a membrana basal do capilar glomerular (Síndrome de Goodpasture´s); Acs mitocondriais na cirrose biliar primária, etc. Depois falaremos sobre um outro tema importante: hipersensibilidade, que contribui e muito para o entendimento deste tema. A auto-tolerância (não reagir consigo mesmo) ocorre desde a embriologia no desenvolvimento dos linfócitos, no reconhecimento de todo repertório habitual do organismo. Na autoimunidade há uma falha no reconhecimento de self peptides = self epitopes. Interessantemente, é que em condições normais, os auto-epitopos aparecem em alta concentração na superfície dos APCs em associação com MHC. Na alta reatividade da célula T (autoimunidade), o que se vê é self epitopes aparecerem em muito baixa concentração nos APCs. Será que em alta concentração circulante, aumenta a memória imunológica do normal (=próprio)?. As células T (=linfócitos T) são o pivô para o desenvolvimento de autoimunidade. Mais recentemente, se viu que a desregulação de citocinas (proteínas pró-inflamatórias produzidas pelos monócitos e linfócitos) pode também levar a ativação de células T auto-reativas. Justo, na atualidade, se faz uso terapêutico de anti-citocinas, claro com seus inconvenientes de poder gerar nos pacientes anticorpos contra a própria molécula da anti-citocina (que é uma proteína alogênica = "do outro"). Os mecanismos terapêuticos são variáveis, de acordo com a gravidade dos sintomas e da resposta terapêutica. Normalmente, os anti-inflamatórios não hormonais (como a indometacina) bloqueia a formação Ag-Ac; anti-inflamatórios hormonais como os corticoides inibem desde o MHC, são mais potentes mas também têm efeitos colaterais indesejáveis; em outros casos mais graves, o uso de imunossupressores com a ciclosporina. Falaremos em breve de hipersensibilidade.
Hélia Cannizzaro
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Joane Dias




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MensagemAssunto: Re: A base da Imunologia   A base da Imunologia Icon_minitimeTer Abr 08, 2014 1:21 am

A imunologia é, de fato, fascinante. Achei especialmente interessante a parte sobre os adjuvantes. Pelo que entendi, eles são substâncias capazes de aumentar ou alterar a resposta imune induzida por um antígeno, tornando a resposta mais expressiva do que quando não estão presentes. As características físicas do adjuvante de Freund completo (onde há Mycobacterium tuberculosis suspensa em uma emulsão contendo auto-antígenos) fazem com que o antígeno seja liberado lentamente, o que prolonga a duração do estímulo imunológico. Seria assim, então, que a presença do adjuvante estimula o desenvolvimento de auto-imunidade? Eu li que o adjuvante de Freund é usado para induzir um modelo de esclerose múltipla em camundongos (encefalomielite auto-imune experimental), mas o artigo também descrevia outro modo de induzir a auto-imunidade, através de transferência de células T CD4 auto-reativas para um animal não-imunizado, que desenvolvia a doença. Mas para que estas células se tornem auto-reativas, é preciso um estímulo prévio, correto? Um outro animal precisa ter auto-imunidade induzida. Há outra forma de induzir auto-imunidade experimental sem uso de adjuvantes? E quanto a doenças humanas, onde a auto-imunidade não é induzida, outros mecanismos podem estar presentes, como um mimetismo molecular, onde um antígeno microbiano pode apresentar reação cruzada com antígenos próprios, fazendo com que a resposta imune desencadeada por um microorganismo ative células T ou anticorpos contra antígenos próprios. Mas e quanto a doenças auto-imunes que são mais frequentes em mulheres, como o LES? Há um mecanismo próprio ou seria influência hormonal apenas?
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Hélia Cannizzaro




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MensagemAssunto: Re: A base da Imunologia   A base da Imunologia Icon_minitimeSex Abr 11, 2014 5:09 pm

Joane Dias
Gostei muito do seu texto.
Os adjuvantes vem alertando à Ciência Imunologia que algo antecede à Doença Auto-Imune, quando os repertórios do que é
PRÓPRIO (pelos linfócitos T) - erra na identificação. Um tipo bacteriano ocupa bem este papel.
Vejamos. Na doença Febre Reumática (FR) e também na GNDA (glomerulonefrite difusa aguda) há uma
bactéria Gram + que antecede esse processo, chamada, Streptococcus beta hemolítico do grupo A
de Lancenfied. Poderia levar a uma doença aguda, como ocorre na maioria dos pacientes com faringite e
laringite, mas nessas duas doenças anteriores isto não ocorre, levando, inclusive, a uma doença
crônica com predileção a outros órgãos. Na FR às articulações e no GNDA nos rins.
Hoje, vários protozoários silenciosos são imputados como adjuvantes.
O GPI-mucina (glicosilfosfatidilinositol-mucina) do Trypanosoma cruzi, da Leishmania chagasi, do Toxoplasma
gondii
vêm sendo estudados como adjuvantes.
Perceba a cronicidade cardíaca, com miocardites, do T. cruzi.
Hélia Cannizzaro

Joane Dias escreveu:
A imunologia é, de fato, fascinante. Achei especialmente interessante a parte sobre os adjuvantes. Pelo que entendi, eles são substâncias capazes de aumentar ou alterar a resposta imune induzida por um antígeno, tornando a resposta mais expressiva do que quando não estão presentes. As características físicas do adjuvante de Freund completo (onde há Mycobacterium tuberculosis suspensa em uma emulsão contendo auto-antígenos) fazem com que o antígeno seja liberado lentamente, o que prolonga a duração do estímulo imunológico. Seria assim, então, que a presença do adjuvante estimula o desenvolvimento de auto-imunidade? Eu li que o adjuvante de Freund é usado para induzir um modelo de esclerose múltipla em camundongos (encefalomielite auto-imune experimental), mas o artigo também descrevia outro modo de induzir a auto-imunidade, através de transferência de células T CD4 auto-reativas para um animal não-imunizado, que desenvolvia a doença. Mas para que estas células se tornem auto-reativas, é preciso um estímulo prévio, correto? Um outro animal precisa ter auto-imunidade induzida. Há outra forma de induzir auto-imunidade experimental sem uso de adjuvantes? E quanto a doenças humanas, onde a auto-imunidade não é induzida, outros mecanismos podem estar presentes, como um mimetismo molecular, onde um antígeno microbiano pode apresentar reação cruzada com antígenos próprios, fazendo com que a resposta imune desencadeada por um microorganismo ative células T ou anticorpos contra antígenos próprios. Mas e quanto a doenças auto-imunes que são mais frequentes em mulheres, como o LES? Há um mecanismo próprio ou seria influência hormonal apenas?
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gustavopatriota




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MensagemAssunto: Re: A base da Imunologia   A base da Imunologia Icon_minitimeDom Abr 27, 2014 12:51 am

O papel do MHC na defesa do nosso organismo contra agente externos pode se apresentar tão maléfica quanto quando nos protege de uma virose, como a gripe. Isso fica evidenciado não só nas doenças auto-imunes como em pós-operatórios de cirurgias de transplante. O Complexo Maior de Histocompatibilidade codifica glicoproteínas HLA de pelo menos três classes distintas que estão envolvidas no processo de rejeição de órgãos. Gostaria de saber da senhora se os adjuvantes podem ser utilizados como forma de tratamento para evitar o ataque do sistema imunológico às células do tecido transplantado.
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Hélia Cannizzaro




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MensagemAssunto: Re: A base da Imunologia   A base da Imunologia Icon_minitimeDom Abr 27, 2014 8:46 pm

Gustavo Patriota
Os adjuvantes ampliam, ainda mais, a Resposta Imune. No transplantado queremos uma resposta ampliada, contra o
tecido do doador, ou uma resposta imune menor?
Não há um consenso, ser o MHC ou um erro no repertório dos linfócitos T (T cell receptor = TCR).

gustavopatriota escreveu:
O papel do MHC na defesa do nosso organismo contra agente externos pode se apresentar tão maléfica quanto quando nos protege de uma virose, como a gripe. Isso fica evidenciado não só nas doenças auto-imunes como em pós-operatórios de cirurgias de transplante. O Complexo Maior de Histocompatibilidade codifica glicoproteínas HLA de pelo menos três classes distintas que estão envolvidas no processo de rejeição de órgãos. Gostaria de saber da senhora se os adjuvantes podem ser utilizados como forma de tratamento para evitar o ataque do sistema imunológico às células do tecido transplantado.
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MensagemAssunto: Re: A base da Imunologia   A base da Imunologia Icon_minitime

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