Hoje trataremos da dosagem laboratorial dos lipídeos. A dosagem de colesterol, entre outras técnicas, pode ser feita pelo método de Huang, método de Sackett e método de Bloor. Esses são tradicionais e fáceis de realizar.
Princípio do método de Huang – A determinação baseia-se na coloração verde que se desenvolve tratando-se o colesterol com anidrido acético e ácido sulfúrico concentrado. O mesmo tratamento se faz com a curva padrão para determinação do desconhecido (da amostra em questão). É utilizado soro, ou seja, na coleta do sangue não se coloca o sequestrador de Ca++ para não haver coagulação. A leitura é feita por espectrofotometria em 607nm de comprimento de onda ou usando filtro vermelho. .
Princípio do método de Sackett – O mesmo do método anterior mas emprega-se o colorímetro visual. O cálculo se faz: leitura do padrão / leitura do desconhecido X 200 = mg/100ml de colesterol.
Princípio do método de Bloor – A determinação baseia-se na comparação colorimétrica da cor verde que se desenvolve tratando-se o colesterol com anidrido acético e ácido sulfúrico concentrado. Dosam-se simultaneamente o colesterol total e o esterificado e subtrai-se daquele para se obter o colesterol livre. Lembrando que o CL tem a hidroxila livre e o CE tem esterificado esta hidroxila por um ácido graxo. Quem promove esta esterificação fundamental é a LCAT (lecitina colesterol aciltransferase). A leitura é feita no comprimento de 605nm.
Os valores normais do colesterol total no sangue variam entre 150 e 250mg/100ml. É formado por duas frações – o colesterol livre e o esterificado representando, respectivamente, 20 a 40% e 60 e 80% do total. Nas moléstias do fígado, por exemplo, há uma redução da parte esterificada (a LCAT é produzida pelo fígado). A redução de CE em várias doenças do fígado é proporcional à gravidade da lesão hepática (bom parâmetro de acompanhamento das doenças hepáticas, além das dosagens de proteínas intra-hepáticas que passam para a corrente sanguínea). O aumento de colesterol (hipercolesterolemia) no diabetes mellitus parece guardar relação com a gravidade da moléstia. O tratamento com insulina reduz a glicose e também o colesterol. No hipotireoidismo há um aumento também de colesterol. As moléstias do trato biliar, com icterícia, são acompanhadas também de aumento do colesterol. Na aterosclerose, o acompanhamento do aumento de colesterol é prognóstico para ocorrência de cardiopatia isquêmica, AVC, etc. Existem também as hiperlipemias idiopáticas familiares (idiopática = sem causa aparente). Já a diminuição do colesterol no sangue (hipocolesterolemia) é constatada na infância e senilidade, nas doenças infecciosas agudas como pneumonias e febre tifoide, na doença de Addison (insuficiência da adrenal) e nos estados caquéticos (fome, doenças consultivas como tumores, etc.).
Na dosagem dos triglicerídeos, um método tradicional é o de Fletcher. Os triglicerídeos do soro ou plasma (sangue com o anticoagulante EDTA) são extraídos e saponificados e o glicerol é oxidado em formaldeído que reagindo com acetilacetona e amônia dá origem a um complexo amarelo (reação de Hantzsch) e a leitura é feita em 405nm. A taxa normal de triglicerídeos varia entre 50 e 150mg/100ml (ou %), sendo um pouco mais baixa em mulheres. Na coleta do material, o paciente deve estar em jejum completo nas últimas 12 horas e em abstenção de álcool. As taxas estão aumentadas na aterosclerose, no diabetes, nas doenças coronarianas, na pancreatite, etc.
A dosagem dos lipídeos totais pode ser realizada pelo método de Chabrol & Charonnat, modificado). Os lipídeos do sangue são aquecidos com ácido sulfúrico concentrado e então oxidados. Tratados com fosfovanilina dão um complexo de coloração rósea. A leitura se faz em 530nm. A taxa normal dos lipídeos totais varia entre 400 a 800mg% ou até 1000mg%, colhido num jejum de mais de 10 horas. Os lipídeos totais compreendem os triglicerídeos (TG), o colesterol, os fosfolipídeos e ácidos graxos. Aumentado nas patologias já citadas anteriormente
Eletroforese de lipoproteínas - As lipoproteínas, em campo elétrico, migram do cátodo para o ânodo, de acordo com a carga livre disponível para migrar de cada fração. O sudan Black B impregna, após a corrida, as frações com intensidade proporcional à concentração de cada uma. Cada fração é eluída (retirada) do gel determinando-se o percentual dos componentes lipídicos. As densidades ópticas são lidas em 530nm. Sabe-se que os lipídeos não circulam livres no sangue, mas que o fazem combinados a proteínas (lipoproteínas produzidas pelo fígado). Em 1967, Fredrickson et.al. propuseram uma classificação das hiperlipoproteinemias na qual distinguem 5 tipos:
1. Hiperquilomicronemia (quilomicron) – colesterol aumentado, TG muito aumentado;
2. Hiperbetalipoproteinemia (beta/LDL) IIa – Colesterol aumentado e TG normal; IIb – Colesterol aumentado e TG ligeiramente aumentado;
3. Lipoproteinemia beta larga (beta e pré-beta / LDL e VLDL) – Colesterol e TG aumentados;
4. Hiperlipemia endógena (pré-beta / VLDL) – Colesterol normal ou pouco aumentado e TG muito aumentado;
5. Hiperlipemia mista (quilomicron / prébeta = VLDL) – Colesterol e TG muito aumentados.
Falaremos depois da dosagem de HDL (conhecido “popularmente” como o colesterol bom). É uma lipoproteína que carreia mais proteína do que lipídeos, talvez este jargão popular. Sua faixa dentro da normalidade transmite uma tranquilidade (não absoluta) quanto a proteção do tecido cardíaco.